Referência
Bibliográfica: DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michele;
SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação
de um procedimento. In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard e colaboradores. Gêneros
orais e escritos na escola. Trad. E Org. de Roxane Rojo e Glaís Sales
Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.
INTRODUÇÃO
Para
que se possa ensinar a oralidade e a escrita, é preciso partir de um
encaminhamento, ao mesmo tempo, semelhante e diferenciado; propor uma concepção
que englobe o conjunto da escolaridade obrigatória; centrar-se, de fato, nas
dimensões textuais da expressão oral e da escrita; oferecer um material rico em
textos de referência, escritos ou orais, nos quais os alunos possam inspirar-se
para suas produções; ser modular, para permitir uma diferenciação do ensino e
favorecer a elaboração de projetos de classe. Fundamentando-se nessas
exigências pode-se afirmar que é possível ensinar a escrita e a oralidade em
situações públicas escolares e extra-escolares, além disso, criar contextos de produções
precisos, efetuar atividades ou exercícios diversos e variados permitirá aos
alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos que são
necessários para o desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e
escrita em diversas situações de comunicação.
O
procedimento “sequência didática”
Um
conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno
de um gênero textual oral ou escrito é denominado sequência didática. Produzimos textos escritos ou orais
diferentes uns dos outros, pois, os adaptamos ao tipo de comunicação visado.
Apesar disso, há situações em que escrevemos textos com características parecidas,
esses textos são enquadrados em um mesmo gênero
de texto ou gênero textual e cada
gênero tem uma especificidade comunicativa, daí a importância da criança
conhecer e aprender a utilizá-los. Uma sequência didática tem o objetivo de
ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto dando-lhe acesso a práticas
de linguagens novas ou dificilmente domináveis.
ESTRUTURA
BÁSICA DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Apresentação da situação: descrição detalhada da tarefa
de expressão oral ou escrita que os alunos realizarão.
Produção inicial: elaboração de um primeiro texto
inicial (oral ou escrito) correspondente ao gênero trabalhado.
Módulos: atividades e/ou exercícios que
dão os instrumentos necessários para o domínio do gênero em questão.
Produção final: o aluno poderá colocar em
prática os conhecimentos adquiridos e, com o professor, medir os progressos
alcançados.
COMPONENTES
DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
A
apresentação da situação
É
um projeto de comunicação e de apresentação da atividade de linguagem a ser
executada. O projeto proposto deve ser explícito para que os alunos compreendam
a situação de comunicação na qual devem atingir e o problema de comunicação que
devem resolver, produzindo um texto oral e escrito e para isso, devem ser
indicados: qual gênero será abordado; a quem a produção se dirige; a forma que
a produção assumirá e quem participará da produção. Na apresentação da situação,
é preciso que os conteúdos dos textos que serão produzidos sejam preparados e
que os alunos percebam a importância desses conteúdos e saibam com quais vão
trabalhar. Portanto, é importante fornecer aos alunos todas as informações
necessárias para que conheçam o projeto comunicativo visado e a aprendizagem de
linguagem a que está relacionado.
A
primeira produção
Neste momento, os alunos elaboram um
primeiro texto oral ou escrito, que revelará para si e para o professor as
representações que têm dessa atividade. Se a situação de comunicação é bem
definida durante a apresentação da situação, todos os alunos conseguirão
produzir um texto de acordo com a situação, mesmo que não respeitem todas as
características do gênero visado. Assim é possível definir o ponto em que o
professor pode intervir melhor e o caminho que o aluno tem ainda a percorrer:
essa é a essência da avaliação formativa.
A
produção inicial serve como reguladora da sequência didática, tanto para os
alunos quanto para o professor.
Para
os alunos, esclarece sobre o gênero abordado, lhes permite descobrir o que já
sabem fazer e perceber os problemas que eles encontram na produção. Para o
professor, é um momento privilegiado de observação, que permitem refinar a
sequência, modulá-la e adaptá-la de maneira mais precisa às capacidades reais
dos alunos.
Os
módulos
Trata-se
de trabalhar os problemas que aparecem na primeira produção e de dar aos alunos
instrumentos necessários para superá-los. Nos módulos, os elementos do gênero,
são abordados separadamente um a um, a fim de desenvolver habilidades e
conhecimentos relativos ao gênero. Neste
trabalho, é fundamental pensar: Que dificuldades da expressão oral ou escrita
abordar? Como construir um módulo para trabalhar um problema particular? Como
capitalizar o que é adquirido nos módulos? Produzir textos orais ou escritos é
um processo complexo, com vários níveis, aonde o aluno se deparará com
problemas específicos de cada gênero e deve se tornar capaz de resolvê-los. O
aluno deve aprender a fazer uma imagem do destinatário do texto, da finalidade
visada, de sua própria posição como autor ou locutor e do gênero visado. Conhecer
as técnicas de buscar, elaborar ou criar conteúdos, planejar o texto e escolher
os meios de linguagem mais eficazes para escrever seu texto.
O
princípio essencial da elaboração de um módulo é o de variar os modos de
trabalho, proporcionando aos alunos, uma diversidade de atividades e
exercícios, possibilitando-os o aprendizado, por diferentes vias. São
necessárias atividades de observação e de análise de textos, tarefas
simplificadas de produção de textos (impõem ao aluno limites, permitindo
descartar certos problemas de linguagem) e a elaboração de uma linguagem comum.
Realizando os módulos, os alunos aprendem a falar sobre o gênero abordado. Adquirem
um vocabulário, uma linguagem técnica, constroem progressivamente conhecimentos
sobre o gênero. Esse vocabulário técnico vai sendo registrado numa lista ao
longo da sequência e cada sequência é finalizada com um registro dos
conhecimentos adquiridos sobre o gênero durante o trabalho nos módulos, na
forma sintética de lista de constatações ou de lembrete ou glossário.
A produção final
A
sequência é finalizada com uma produção final que dá ao aluno a possibilidade
de pôr em prática as noções e os instrumentos elaborados separadamente nos
módulos. Permite também ao professor realizar uma avaliação somativa. O
importante é o aluno encontrar os elementos trabalhados em aula e que devem ser
vistos como critérios de avaliação. Regular e controlar seu próprio
comportamento de produtor de textos e seu processo de aprendizagem e assim,
avaliar os progressos realizados durante o trabalho.
Os
princípios teóricos subjacentes ao procedimento “seqüência didática”
-
Escolhas pedagógicas: insere-se num projeto
que motiva os alunos a escrever ou tomar a palavra; maximiza, pela
diversificação das atividades e dos exercícios, as chances de cada aluno se
apropriar dos instrumentos e noções propostos.
-
Escolhas psicológicas: a atividade de
produção de textos escritos ou orais é trabalhada em toda sua complexidade,
incluindo a representação da situação de comunicação, o trabalho sobre os conteúdos
e a estruturação dos textos; o procedimento visa transformar o modo de falar e
de escrever dos alunos, no sentido de uma consciência mais ampla de seu
comportamento de linguagem em todos os níveis; diferentes instrumentos de
linguagem propostas aos alunos.
-
Escolhas linguísticas: A atividade de
linguagem produz textos e discursos. O procedimento utiliza instrumentos linguísticos
que permitem compreender essas unidades; toda língua se adapta às situações de
comunicação e funciona de maneira bastante diversificada.
As
finalidades gerais da sequência didática são: preparar os alunos para dominar
sua língua nas situações mais diversas da vida cotidiana, oferecendo-lhe
instrumentos precisos, imediatamente eficazes, para melhorar suas capacidades
de escrever e de falar; desenvolver no aluno uma relação consciente e
voluntária com seu comportamento de linguagem, favorecendo procedimentos de
avaliação formativa e de auto-regulação; construir nos alunos uma representação
da atividade de escrita e de fala em situações complexas, como produto de um
trabalho, de uma lenta elaboração. As sequências didáticas apresentam uma
grande variedade de atividades que devem ser selecionadas, adaptadas e
transformadas em função das necessidades dos alunos, dos momentos escolhidos
para o trabalho, da história didática do grupo e da complementaridade em
relação a outras situações de aprendizagem da expressão, propostas fora do
contexto das sequências didáticas.
A
adaptação das sequências às necessidades dos alunos exige, da parte do
professor: analisar as produções dos alunos em funções dos objetivos da
sequência e das características do gênero; escolher as atividades
indispensáveis para a realização da continuidade da sequência; prever e
elaborar, para os casos do insucesso, um trabalho mais profundo e intervenções
diferenciadas no que diz respeito às dimensões mais problemáticas.
As
diferenças do trabalho com a escrita e com o oral
Como
o gênero pode assumir na comunicação tanto a expressão oral como a escrita. É
importante salientar que existem diferenças entre as sequências destinadas ao
trabalho com gêneros orais ou escritas, devido a sua materialidade dos mesmos.
As diferenças mais importantes são: a possibilidade de revisão, a observação do
próprio comportamento e a observação de textos de referência.
Questões
de gramática, sintaxe e ortografia
Mesmo
a sequência didática tendo como objetivo aperfeiçoar práticas de escrita e da
produção oral, centradas em questões específicas, deve-se fazer uma articulação
entre o trabalho proposto nas sequências e outros domínios do ensino da língua,
apoiando-se para isso em certos conhecimentos linguísticos, construídos em
outros momentos. As recorrências de formas verbais ligadas a um gênero textual
podem criar a oportunidade de abordar à morfologia verbal de maneira paralela
ao trabalho com a sequência. Com relação à sintaxe, as dificuldades são mais
frequentes, vem muitas vezes resultante de interferências entre a sintaxe do
oral e da escrita. Na sequência é possível levantar esses problemas e “melhorar
as frases”, tendo em vista a reescrita do texto. O domínio da sintaxe não está
ligado a um gênero, deve-se desenvolver nos alunos capacidades de análise que
lhe permitam melhorar esses conhecimentos. É necessário tempo específico para o
estudo da gramática e as sequências se favorecerão com essa aprendizagem,
dando-as mais sentido.
Os problemas ortográficos também não tem
correlação com os gêneros. Os alunos precisam escrever com frequência para que consigam
desenvolver melhor suas capacidades ortográficas. Os erros encontrados nos
textos produzidos pelos alunos são uma fonte de informação para o professor,
servindo de base para o trabalho com a ortografia. É necessário atribuir
um devido lugar para a correção ortográfica, pois, muitas vezes, os professores
focam muito nessa questão e acabam não valorizando outras dimensões que entram
em jogo na produção textual. A correção ortográfica deve ser realizada no
percurso final do texto, após o aperfeiçoamento de outros níveis textuais.
Os agrupamentos de gêneros e
progressão através de séries/ciclos
Cada
gênero textual tem um objetivo de comunicação, por isso é essencial um ensino
adaptado para cada gênero de texto. No entanto, os gêneros podem ser agrupados
em função de certo número de regularidades linguísticas. Os agrupamentos de
gêneros tem que ter em vista o desenvolvimento da expressão oral e escrita.
O
agrupamento de gêneros revelou-se um meio eficaz para pensar a progressão através dos ciclos/séries. Um mesmo
gênero é trabalhado, em diferentes ciclos ou séries, com objetivos cada vez
mais complexos, em função das possibilidades de transferência que permitem.
A
definição da progressão precisa levar em conta, as pesquisas em psicologia sobre
o desenvolvimento das capacidades de linguagem e as pesquisas em didáticas que
consideram os limites da situação escolar e o currículo seguido pelos alunos. É
possível elaborar uma progressão em cada um dos cinco agrupamentos de gêneros,
levando-se em conta os objetivos da aprendizagem de gêneros e os domínios
necessários das situações de comunicação. Assim, é fundamental escolher um
plano de texto adaptado à situação de cada ciclo/série, garantindo que o
trabalho com os gêneros atinjam os objetivos requisitados e uma diversidade
textual a cada nível. Em cada nível, o aluno terá se exercitado na produção de
gênero, pertencente a diversos agrupamentos. A escolha dos gêneros tratados de
acordo com os ciclos ou séries justifica-se pela ideia de que aprendizagem não
é uma consequência do desenvolvimento, uma condição para ele quando à
intervenção do professor e as interações com outros alunos podem gerar
progresso. As diferentes sequências dão indicações quanto à adequação do gênero
ao início ou ao final de um dado ciclo.
Produzir
textos é um processo complexo, a aprendizagem de tal conhecimento é lenta e
longa. Para assegurar o domínio dos principais gêneros no final do ensino
fundamental, propõe-se uma iniciação precoce, com objetivos adaptados as primeiras
etapas. Cada gênero pode ser abordado em diferentes níveis de complexidades,
por exemplo, o conto que será trabalhado em diferentes etapas do ensino
fundamental, porem com objetivos graduados, tanto do ponto de vista da
organização e da construção de personagens típicas como das unidades
linguísticas que a caracterizam. A retomada de objetivos já trabalhados, após
certo espaço de tempo e numa nova perspectiva, parece indispensável para que a
aprendizagem seja assegurada.
Trabalho apresentado pelas graduandas em Pedagogia (UFJF): Maíra Saporetti , Jéssica Souza, Simone da Silva, Letícia Alves e Taiane Loures.