Constantemente em
nossas vidas elaboramos e reelaboramos projetos, na maioria das vezes, se
planeja antes de se fazer algo. Os projetos são utilizados em diversas áreas do
conhecimento, pórem neste texto será enfocado o campo educacional.
Na passagem do século
19 para o 20, foi constituído um movimento educacional chamado Escola Nova, que
levantou questões sobre os sistemas educacionais no mundo ocidental,
problematizando a escolarização, as concepções de criança, de aprendizagem e de
ensino. Suas propostas teóricas e
metodológicas tinham como objetivo a crítica e a construção de uma visão
crítica da educação convencional. Os escolanovistas como Decroly, Montessori e
Dewey se agruparam em torno de ideias reformistas. No Brasil, as ideias
reformistas se reuniram no documento denominado Manifesto dos Pioneiros da
Educação (1932), aonde procuraram criar formas de organização do ensino que
tivessem características como a globalização dos conhecimentos, o atendimento
aos interesses e as necessidades dos alunos, a sua participação no processo de
aprendizagem, uma nova didática e a reestruturação da escola e da sala de aula.
Nessas experiências, encontram-se estratégias para a organização do ensino,
como os centros de interesses, os projetos e as unidades didáticas.
Decroly criou os
centros de interesses, onde os conteúdos são organizados de maneira
globalizada, as matérias de ensino são unificadas e todas as atividades
escolares são estruturadas em torno de um único tema preestabelecido pelo
educador a partir da pesquisa sobre aquilo que considera interesses dos seus
alunos.
Dewey, um dos
representantes da pedagogia de projetos, acreditava que o conhecimento só é
obtido através da ação, da experiência, pois o pensamento seria o produto do
encontro do individuo com o mundo. Essa proposta de trabalho possibilita aos
alunos aprenderem, sobretudo ao partilharem diferentes experiências de trabalho
em comunidade. A principal função da escola seria a de ajudar a criança a
compreender o mundo. Para Dewey, preparar para a vida seria pôr a criança em
condições de procurar meios de realização para seus próprios empreendimentos e
de realizá-los verificando pela própria experiência o valor das concepções que
esteja utilizando. Quatros passos eram considerados norteadores da construção
de um projeto: decidir o propósito do projeto, realizar um plano de trabalho
para sua resolução, executar o plano projetado e julgar o trabalho realizado.
No século XX houve
tentativas de implementação dos projetos nas escolas americanas, mas não
alcançou êxito devido ao programa escolar de concepção tradicional ter uma
infinidade de conteúdos obrigatórios; definidos; uniformes; fragmentados e um
controle sobre o tempo, sendo preciso estipular o período de duração dos
projetos antes de sua execução. A fim de superar tais problemas, criou-se um
jeito novo de organizar o ensino, as unidades didáticas, tão comuns na educação
brasileira. Assim, a pedagogia de projetos foi esquecida e interpretada
equivocadamente.
Atualmente, podemos
ainda agregar como proposta de organização de ensino os temas geradores (Paulo
Freire), aonde os conteúdos, as atividades dos educandos giram em torno de
temas que relacionam-se com a realidade socioeconômica e cultural em que se
insere o aluno. Hoje em dia, os projetos ganham uma nova roupagem, na qual
estejam incluídas também o contexto sócio-histórico.
Porque voltar a falar
em projetos?
Os motivos que fizeram
essa forma de organizar o ensino voltar ao contexto educacional são:
·
Devido às ideias pedagógicas do inicio
do sec.XX terem sido silenciadas, o uso descontextualizado de técnicas
perdurou, assim a escola do sec.20, continuou utilizando um ensino que foi
pensado no século 19.
·
Grande parte da população ter tido
acesso a escolaridade, pórem não ter sido sinônimo de aprendizagem.
·
A dinâmica da vida das sociedades atuais
pressupõe outro modo de educar as novas gerações e que as novas características
da infância e da juventude não têm sido consideradas nos modos de pensar e de
realizar a educação escolar.
Diante disso tudo é
preciso uma modificação da estruturação e organização da vida escolar,
ressignificando as aprendizagens e as vivências dos alunos. E a pedagogia de
projetos pode ter papel significativo para que essa mudança ocorra.
A sociedade
contemporânea aponta para a passagem de um paradigma disciplinar para um
interdisciplinar ou transdiciplinar. Assim, trabalhar na escola um currículo
apenas disciplinar, é seguir na contramão do mundo atual (da construção do
conhecimento científico). Outra conquista importante é em relação a verdade,
hoje dificilmente convive-se com a verdade única, com as certezas prévias, mas
sim com as incertezas e as diferentes interpretações. Conhecer é estabelecer um
diálogo com a incerteza. As escolas devem ser espaços privilegiados para a
aquisição e a problematização do conhecimento.
Os processos de
aprendizagem humana vêm sendo estudados pela psicologia da aprendizagem, as
primeiras interpretações vinham da biologia, numa visão maturacional, ou seja,
a herança genética era o fator essencial para a aprendizagem e as novas
aquisições de comportamento e de cognição viriam das mudanças na maturação. No
século XX, predominou um modelo ambiental da aprendizagem, baseado no modelo
skinneriano aonde, por mais que a biologia contribuísse no desenvolvimento, era
da adaptação ao ambiente que emergiriam os novos procedimentos. No fim do
século 19, tanto o pragmatismo quanto as ideias construtivistas vão dar ênfase à
ação, isto é, as relações entre os sujeitos e o ambiente. no
socioconstrutivismo, há uma superação da polarização entre o inato e o
ambiental, portanto o conhecimento é construído socialmente, nas interações
entre os sujeitos e o ambiente físico e social onde se encontram. No paradigma
construtivista afirmam que o desenvolvimento ocorre pela ação dos indivíduos
sobre o ambiente, aonde a biologia e a experiência desempenham papéis iguais e
recíprocos no desenvolvimento humano. As habilidades de desenvolvimento das
crianças são vistas como ligadas ao conteúdo e à estrutura das atividades de
que elas participam juntamente com os adultos dentro de uma cultura e a
aprendizagem só acontece quando se vive em um contexto organizado para o seu
surgimento. Essa visão proporciona a passagem de uma perspectiva da aprendizagem
individual e racional para uma perspectiva social e multidimensional. Portanto,
para provocar aprendizagens, é preciso fazer conexões e relações entre
sentimentos, ideias, palavras, gestos e ações. Segundo Rinaldi, a aprendizagem
é um processo de construção da razão, dos porquês, dos significados, do sentido
das coisas, dos outros, da natureza, de realização, da realidade, da vida. È um
processo de auto e socioconstrução, um ato de verdadeira e própria
co-construção.
O cérebro humano é um
sistema aberto e fortemente plástico, e cada vez está afirmada a ideia que a
inteligência é o processo de estabelecer inter-relações entre as estruturas
cerebrais. A inteligência vai sendo formada à medida que o sujeito se vê frente
a situações desafiadoras (reais ou abstratas) que acontecem cotidianamente nas
relações com o meio.
Gregory, afirma que
podemos encontrar dois tipos de inteligência: a do conhecimento armazenado
(potencial) e a do processo e da resolução de problemas (cinética). A escola
sempre trabalhou apenas com o desenvolvimento da inteligência potencial, que
está ligada à memória, o ensino focado na capacidade de receber passivamente
informações, processar e produzir respostas. Pórem, também é preciso destacar a
inteligência do processo, do movimento e da criação. Ao longo do século 20,
acrescentou-se a capacidade de projetar. A formação humana tem compromisso com
o desenvolvimento de ambas as inteligências.
O mundo atual
globalizado está organizado em rede, constituindo-se em um sistema aberto,
aonde os atores precisam se apropriar de seus códigos e linguagens simbólicas,
a escola precisa participar disso. Deve sair da função de transmissora de
conhecimentos a serem acumulados para assumir a capacidade de atuar e organizar
os conhecimentos em função das questões que se levantem. As mudanças ocorridas
nos últimos 50 anos, saem da concepção segundo a qual as crianças eram vistas
como seres em faltas, incompletos, para uma concepção das crianças como
protagonistas do seu desenvolvimento, realizado por meio de uma interlocução
ativa com seus pares, com os adultos e o ambiente que as rodeiam. Quando se
propicia na educação infantil a aprendizagem de diferentes linguagens,
possibilita-se às crianças colocar em ação conjunta e multifacetada esquemas
cognitivos, afetivos, sociais, estéticos e motores.
Uma pedagogia
diferenciada começa a ganhar espaço a partir de 1960, que valoriza as
diferenças no modo como são selecionados os conhecimentos, as experiências
socioculturais, as diferenças subjetivas das crianças e suas histórias de vida.
E uma das formas de contemplar essas questões é a pedagogia de projetos. Há
varias linhas de trabalho sobre projetos com princípios políticos e pedagógicos
diferenciados, portanto não há uma única forma de trabalharmos com projetos, vai
depender do grupo com qual se irá trabalhar para se utilizar um projeto, desde
que não sejam feridos os princípios básicos, pode ser adaptado e transformado.
Compreender etimológica e pedagogicamente o que é projetar torna-se fundamental
para se construir caminhos nessa trajetória.
Resumo feito por Maíra Saporetti Carvalho